domingo, 25 de setembro de 2016

POEMÃOS



As minhas mãos onde estão?
Estão onde eu estou...
E onde estou?
Perdida no cosmos?
Criando rabiscos convexos?
Não e outro não!
As minhas mãos estão fazendo mesmo o quê?
Lutando? Protegendo?
Defendendo-me?
Minhas mãos estão na arte da criança
Que, sem querer, usa suas próprias mãozinhas 
Para conhecer o mundo.
E... quando atua no mundo,
Precisa de alguém que a ajude a olhar -
Olhar de vários ângulos, com muitas mãos e muitos olhos...
Minhas mãos estão na roca da minha vida
E vão desfiando fios, teias 
E telas que são textos.
Ah, minhas mãos!
Onde estão?
Que andas fazendo onde estou?
Andas conduzindo as unhas para os roedores, em aflição?
Ou andas ocupada demais na criação?
O que andas criando, minhas mãos?
Criando roupas para os pobres
Ou ajuntando moedas para teus anéis?
O que andas mesmo criando?
Criando arte que sensibiliza a vida
Ou criando cartas vivas que agridem?
Minhas mãos, 
Une com teus olhos, corpo e coração,
E vem falar.
Aprenda a língua das mãos
E fala do que teu coração está cheio...
Cidade Jardim, 02.09.16 para Neide Dias de Sá



FOTÓGRAFOS DE MOSCAS E CORAÇÕES





Eu já andei por aí...
Já vi muitas coisas, outras coisas eu li...
Senti muita tristeza, senti emoção...
Mas fico pensando, aqui, bem quieta:
Que fiz pra mudar realidades terríveis?
Eu vi crianças inocentes e esquálidas,
Vivendo com moscas, sem forças de abano...
Eu vi que fotógrafos certamente primeiro
Tentaram espantar invasores da praga,
Mas, cansados do pouco, que nada mudava,
Registraram em cliques
O que tanto dói.
Seguiram clicando, marcando a desgraça
Para ver se as imagens, de tanto nefastas,
Impulsionavam alguém,
A algo fazer.
Mas, dói mesmo em nós?
Onde o amor?
Que posso fazer com tanta injustiça
De um mundo ingrato
Que é nossa cara?
O mundo é o que é por causa de nós: de mim, de você!
Levantemos de nossas cadeiras,
Poltronas fofinhas e injustas!
Façamos algo, hoje!
Nem que seja um clique!

Para Denellopy Rapchan;
Cidade Jardim, 25.09.2016

O FACE E AS FACES






O Facebook me lembra hoje cedo
De momentos incríveis que vivi...
Faz dois anos!
Recuperou as fotos e mas enviou..
Gostei de ver, relembrei....
Foi muito bom, edificante...
Logo depois, deprimi...
Lembrei que na era da vaidade,
Esta era em que vivemos (vivemos?),
O que mais vemos?
Biquinhos e purpurinas:
Irrealidades fatais.
Mergulhamos numa vaidade que mata!
Mata crianças de fome e abandono.
Mata velhinhos de dor e saudade.
Mata empresários de tanto guardar.
Mata modelos de tanto sonhar...
Onde estamos, meu Deus?
Que mundo é esse de contrastes gritantes?
É que este grito é baixinho... 

E só ouve quem está afinado em ouvir
O que grita, bem fraquinho, o coração.

Para Jerusa Nina,
Cidade Jardim, 25.09.2016